RITA ESPESCHIT
( BRASIL - MINAS GERAIS )
Mineira de Belo Horizonte, mora em Edmonton, Canadá.
É poeta e autora de livros infanto-juvenis. Publicou três livros de poesias para adultos e dez de histórias para crianças e adolescentes. Alguns deles ganharam prêmios como o Jabuti (SP), João de Barro (BH), Cruz e Souza (SC) e o Concurso Nacional do Paraná, entre outros. É também uma das autoras da coleção de didáticos Na Ponta da Língua.
POESIA SEMPRE. Ano 5 Número 8. Editor Geral: Antonio Carlos Secchin. Rio de Janeiro: MINISTÉRIO DA CULTURA / Fundação BIBLIOTECA NACIONAL, 1997.
452 p. ISSN 0104-0626 No. 10 927
Exemplar da Biblioteca de Antonio Miranda
Terra Azul
Pasta na planície das praças
O bando solitário e bípede.
O singelo pascer dos homens
espécie delicada e estúpida
que se perdeu no planeta.
A Terra é azul
e insuportavelmente
distante.
Inverno
A Terra degolada pelos deuses
em dias de festim:
raios de cólera maiúscula
decepam a memória do mundo.
Árvores se curvam
e os rios quedam-se.
Dia dos deuses
sacudiram o pó dos séculos.
O olhar pluviométrico do deus
se repartiu em dez?
Naquele tempo, havia gigantes
sobre a Terra. Afogaram-se.
Hoje, a amnésia visita nossa morada
e sussurra doce os mistérios
do tempo presente.
Estamos surdos e esperamos
a pequena nave louca em que viajaremos
dilúvio afora.
Pescaria
O poema em vão jaz no mar de Platão.
Dois mil anos em ócio no oceano.
Heidegger, o pescador de ostras, serra a mira
e arpoa o poema em extinção.
O barco iça a carcaça de versos.
O pescador, convertido, se ajoelha
ausculta, faz primeiros e segundos socorros
decreta: pagãos! respira ainda a poesia!
Morre a filosofia na era do instante clip.
Dois mil anos enfim na lâmpada de Aladim.
*
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Página publicada em setembro de 2025.
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